A jornada no mercado de ações é, para muitos investidores, repleta de dúvidas fundamentais. Uma das perguntas mais recorrentes, e que gera longos debates em fóruns e rodas de conversa sobre finanças, é: afinal, quantas ações devo ter na carteira?
Esta é uma questão crucial, pois a maneira como você estrutura seu portfólio determinará diretamente a relação entre o risco que você assume e o retorno que você espera alcançar. É importante salientar que, embora muitos busquem uma fórmula mágica, a resposta ideal varia conforme o perfil, o conhecimento e os objetivos de cada indivíduo.
Neste artigo, vamos explorar de forma didática e aprofundada o conceito de diversificação de investimentos e como ele se aplica à construção de uma carteira robusta. Além disso, apresentaremos argumentos sólidos baseados na teoria financeira para que você possa tomar uma decisão informada, fugindo de soluções simplistas e sensacionalistas.
A Importância Da Diversificação De Investimentos Para Seu Patrimônio
O ato de investir em ações carrega consigo a promessa de altos retornos, mas também a incerteza da volatilidade. Dessa forma, o primeiro conceito que todo investidor deve dominar é a diversificação de investimentos. Em essência, diversificar significa não colocar todos os ovos na mesma cesta. Contudo, no contexto do mercado de capitais, essa definição é muito mais profunda e estratégica.
A verdadeira importância da diversificação reside na sua capacidade de mitigar o risco não sistemático. É fundamental entender que o risco total de um investimento pode ser dividido em duas categorias: o risco sistemático (ou de mercado), que afeta todos os ativos e não pode ser eliminado, e o risco não sistemático (ou específico), que é inerente a uma empresa ou setor particular e que, sim, pode ser reduzido com uma alocação inteligente.
O Risco Não Sistemático e A Redução De Perdas
Quando você compra ações de uma única empresa, você assume 100% do risco específico dela. Por exemplo, um escândalo de corrupção ou uma greve inesperada afetaria drasticamente aquela ação, mas não necessariamente o mercado inteiro. No entanto, à medida que você adiciona mais empresas à sua carteira, o impacto de um evento negativo em uma única ação é diluído pelo desempenho das demais.
Um Alerta Recente: O Caso Oi
Para entender a relevância da diversificação, basta olharmos para casos recentes e extremos no mercado brasileiro. A decretação da falência da Oi, que encerrou a maior recuperação judicial da história do país, é um exemplo contundente de risco de concentração em ação. Para os acionistas que detinham uma parcela significativa de seu patrimônio apenas nas ações OIBR3 ou OIBR4, o prejuízo foi praticamente total, com a suspensão da negociação dos papéis na B3.
Embora o mercado de telecomunicações não tenha parado, e outras empresas do setor continuem operando, o investidor que estava concentrado na Oi não teve mais a quem recorrer para recuperar seu capital. Entretanto, aquele investidor que possuía as ações da Oi, mas que havia diluído o investimento em outros 10 ou 15 papéis de setores diferentes, conseguiu absorver o impacto da falência sem que seu patrimônio fosse aniquilado.
A notícia sobre a falência e seus impactos para os acionistas pode ser acessada clicando aqui, no portal Infomoney.
Portanto, diversificar é o mecanismo mais eficaz para eliminar o risco não sistemático. Em outras palavras, ao investir em diferentes setores, tamanhos de empresas e até mesmo geografias, você se protege contra eventos isolados que poderiam destruir seu capital. É por essa razão que, independentemente do seu perfil, a resposta inicial para a pergunta quantas ações devo ter na carteira sempre envolverá mais de uma.
O Número Mágico Não Existe: Rompendo O Mito da Quantidade Ideal
A busca por um “número mágico” é incessante. Você provavelmente já ouviu que o ideal é ter 10, 20 ou até 30 ações. No entanto, o problema de focar em um número absoluto é que ele ignora a relação de custo-benefício que a diversificação oferece, conforme demonstrado em estudos acadêmicos.
A Curva Da Eficiência e O Conceito De Risco De Concentração
A maior parte da redução do risco não sistemático é alcançada com um número relativamente pequeno de ações. A Teoria Moderna de Portfólios, desenvolvida por Harry Markowitz, demonstra que o risco total de uma carteira diminui significativamente quando ativos não correlacionados são adicionados. Contudo, essa redução tem um limite.
Estudos clássicos, como o de Evans e Archer (1968), já indicavam que apenas cerca de 8 a 16 ações, selecionadas aleatoriamente, eram suficientes para eliminar a maior parte do risco não sistemático de uma carteira. Hoje, com um mercado mais complexo, a faixa ideal é frequentemente citada entre 10 e 20 ações. Isso significa que a inclusão de ativos além dessa quantidade oferece retornos decrescentes em termos de mitigação de risco.
Evans, John L.; Archer, Stephen H. (1968). “Diversification and the Reduction of Dispersion: An Empirical Analysis.” The Journal of Finance, Vol. 23, No. 5, pp. 761–767.
A adição contínua de novas ações à carteira segue o princípio da Curva da Eficiência. No início, cada nova ação traz um benefício significativo na redução de risco. Contudo, após um certo ponto, a curva se achata. Adicionar a 25ª, a 30ª ou a 50ª ação mal fará diferença na volatilidade geral do seu portfólio.
É neste momento que surge o perigo oposto, conhecido como risco de concentração negativa, ou, em outras palavras, a superdiversificação. A superdiversificação é tão prejudicial quanto a falta de ativos, pois dilui o potencial de retorno. Ao ter ações demais, sua carteira começa a se comportar de forma muito próxima a um índice de mercado (como o Ibovespa), e você perde a oportunidade de obter retornos acima da média por meio da escolha de empresas vencedoras. Por conseguinte, você acaba apenas comprando o mercado, mas com o custo de monitorar dezenas de posições individuais.
A questão, portanto, não é meramente quantas ações devo ter na carteira, mas sim quantas ações eu consigo acompanhar com a atenção e a análise que elas merecem. O famoso investidor Warren Buffett, por exemplo, é um defensor da concentração em poucas empresas que ele conhece profundamente, reforçando a ideia de que a qualidade da análise supera em muito a quantidade de ativos.
A Gestão De Risco Além Do Número: Qualidade Sobre A Quantidade
Para o investidor iniciante ou para aquele que possui um capital menor, a resposta ideal para quantas ações devo ter na carteira deve priorizar a gestão de risco e a facilidade de acompanhamento. Não há como negar que acompanhar 50 empresas diferentes, lendo seus balanços e notícias trimestrais, exige dedicação em tempo integral e um conhecimento profundo.
Se você possui pouco tempo ou está começando, é muito mais sensato começar com um grupo menor, próximo a 10 ações bem selecionadas em setores distintos. Esta abordagem oferece uma redução substancial do risco específico e, simultaneamente, permite que você se aprofunde nas análises das companhias que compõem seu patrimônio. É a partir do estudo detalhado que se encontram as assimetrias de mercado que geram retornos superiores.
O Impacto Direto Do Patrimônio No Limite De Ativos
Um fator muitas vezes negligenciado ao debater quantas ações devo ter na carteira é o tamanho do patrimônio do investidor. A relação entre a quantidade de ativos e o montante financeiro disponível é inversamente proporcional, especialmente no início da jornada.
Para um investidor com um pequeno capital, digamos, R$ 5.000,00, a diversificação excessiva se torna um problema operacional e de retorno. Se ele comprar 20 ações, terá que alocar apenas R$ 250,00 em cada empresa. Nesse cenário, mesmo que uma das ações se valorize 100%, o impacto absoluto no patrimônio total será pequeno. Além disso, as taxas operacionais (mesmo que próximas de zero) e a dificuldade em comprar lotes unitários de baixo valor tornam a gestão de risco ineficiente.
Consequentemente, investidores com menor capital devem priorizar uma concentração maior. O ideal é focar em 5 a 10 ações, garantindo que o valor alocado em cada uma seja significativo o suficiente para que a performance da empresa se reflita de maneira notável no resultado da carteira. A medida que o patrimônio cresce (por exemplo, acima de R$ 50.000,00 ou R$ 100.000,00), o investidor ganha capacidade financeira para expandir o número de ativos de forma eficaz, alcançando o limite de ativos ideal para diversificação sem cair na superdiversificação.
Fatores Que Definem O Seu Limite De Ativos E A Sua Escolha
A determinação do seu limite de ativos deve ser pautada nos seguintes elementos, incluindo agora o patrimônio:
- Tempo Disponível para Pesquisa e Acompanhamento: Se você dedica algumas horas por semana, uma carteira menor é mais gerenciável. O investidor que não acompanha suas empresas corre o risco de ser pego de surpresa por eventos negativos.
- Conhecimento e Experiência: Investidores mais experientes e com profundo conhecimento setorial podem se dar ao luxo de ter uma carteira mais concentrada, pois a confiança em sua análise mitiga a necessidade de superdiversificação. Por outro lado, o iniciante se beneficia de uma diversificação um pouco mais ampla.
- Capital Total Investido: Como visto, o pequeno investidor deve concentrar para que o retorno das ações vencedoras não seja diluído. O investidor de grande capital pode se dar ao luxo de ter um número maior de ações.
- Uso de Outras Classes de Ativos: A diversificação não deve se limitar apenas a ações. Seu portfólio já está diversificado se você possui Fundos Imobiliários (FIIs), Renda Fixa ou investimentos internacionais. Essa diversificação entre classes de ativos é, na verdade, muito mais poderosa na redução do risco sistemático do que a mera adição de mais ações brasileiras.
Um Exemplo Prático: Como Aplicar A Diversificação Em Sua Carteira

Para ilustrar o conceito de como a alocação é mais importante do que apenas o número, vejamos um exemplo prático de uma carteira diversificada para um investidor de perfil moderado que busca entender quantas ações devo ter na carteira.
Imagine um investidor que decide ter 15 ações em seu portfólio. O simples fato de ter 15 ativos não garante a diversificação. Se todas as 15 ações fossem de empresas financeiras ou de commodities, ele estaria altamente exposto aos riscos específicos daquele segmento (alto risco de concentração).
Exemplo de Alocação de Ações (15 Ativos):
| Setor | % do Portfólio (Ações) | Ações (Quantidade) | Justificativa de Risco |
| Financeiro | 20% | 3 (Bancos, Seguros) | Exposição a juros, crédito e regulação. |
| Bens Industriais | 20% | 3 (Siderurgia, Aviação) | Exposição a ciclos econômicos e infraestrutura. |
| Commodities | 20% | 3 (Mineração, Petróleo, Papel e Celulose) | Exposição a preços globais de matérias-primas e taxa de câmbio. |
| Utilidade Pública | 20% | 3 (Energia, Saneamento) | Setor de menor volatilidade, previsibilidade de receita e concessões. |
| Saúde e Tecnologia | 20% | 3 (Laboratórios, Softwares) | Potencial de crescimento, inovação e demandas não cíclicas. |
| Total | 100% | 15 | Risco distribuído por setores com baixa correlação. |
Neste caso, 15 ações são suficientes para atingir um alto grau de diversificação setorial, mitigando o risco específico de forma eficiente. Quantas ações devo ter na carteira se torna uma pergunta secundária; o que realmente importa é que essas 15 ações estão em setores que reagem de maneira diferente às condições macroeconômicas.
Além disso, a gestão de risco é aprimorada se esse investidor, por exemplo, alocar apenas 50% do seu patrimônio em ações e os outros 50% em Renda Fixa e FIIs. Esta é a verdadeira diversificação. Para o investidor que tem mais tempo e conhecimento, esse número de 15 poderia ser expandido para 20 ou reduzido para 10. O importante é manter o foco na análise e no balanço setorial.
Conclusão: Sua Jornada De Investidor E O Caminho Para O Sucesso
Ao chegarmos ao final desta análise, percebemos que a pergunta sobre quantas ações devo ter na carteira não possui uma resposta única e imutável. Ela é uma resposta dinâmica que se molda à sua capacidade de análise e ao seu perfil de risco.
O caminho mais seguro é o do meio: evitar a concentração excessiva em pouquíssimos ativos (o que aumenta drasticamente o risco específico) e, ao mesmo tempo, fugir da superdiversificação que dilui seus retornos e torna o acompanhamento inviável. Uma faixa entre 10 e 20 ações, distribuídas de forma inteligente em setores distintos, é o que a maioria dos investidores de sucesso adota. Isso garante que a maior parte do risco não sistemático seja eliminada, sem comprometer a possibilidade de que as melhores empresas da sua seleção impulsionem a rentabilidade.
Lembre-se sempre que a diversificação de investimentos é o alicerce de qualquer estratégia vencedora. Não se trata apenas do limite de ativos, mas sim da qualidade de cada escolha e da alocação percentual que você confere a elas. Tome decisões baseadas em estudos e não em achismos. A sua disciplina em manter o foco e a qualidade analítica será o verdadeiro diferencial para o crescimento sustentável do seu patrimônio no longo prazo.
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Perguntas Frequentes (FAQ)









