O horizonte financeiro para o investidor brasileiro se expandiu consideravelmente nos últimos anos. Deixar de depender apenas dos ativos nacionais e buscar oportunidades de crescimento em mercados desenvolvidos é uma estratégia que se tornou não apenas possível, mas acessível a todos. A melhor maneira de investir em ações internacionais sem sair do Brasil é por meio dos BDRs. Neste guia, vamos desmistificar essa ferramenta e mostrar como ela pode diversificar sua carteira, permitindo que você se torne sócio das maiores empresas do mundo.
O Que São BDRs e Por Que Você Deve Considerar Investir em Ações Internacionais
Os Brazilian Depositary Receipts, ou simplesmente BDRs, são certificados de depósito emitidos e negociados no Brasil, que representam ações de empresas abertas sediadas no exterior. De forma direta, um BDR é a maneira mais simples de investir em ações internacionais de companhias como Apple, Google (Alphabet) ou Tesla, sem a burocracia de abrir conta em uma corretora estrangeira ou lidar com câmbio e regulamentações internacionais. Essa ferramenta democratizou o acesso a mercados desenvolvidos, permitindo que o investidor brasileiro diversifique seu portfólio e se exponha a setores e moedas globais que a B3 (Bolsa de Valores brasileira) não oferece em sua plenitude.
A Popularização dos BDRs: Acesso Descomplicado ao Mercado Global
Historicamente, o mercado de BDRs era restrito a um grupo seleto de investidores, conhecidos como investidores qualificados. Isso significa que apenas aqueles que possuíam mais de 1 R$ milhão em investimentos podiam negociar esses ativos. Entretanto, o cenário mudou drasticamente em 2020.
Com a alteração regulatória promovida pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o acesso aos BDRs foi ampliado para investidores em geral. Dessa forma, qualquer pessoa com uma conta em uma corretora no Brasil passou a ter a oportunidade de investir em ações internacionais. Essa mudança injetou liquidez no mercado, aumentando a quantidade de papéis disponíveis e tornando os BDRs um instrumento de diversificação amplamente adotado.
A popularização também foi impulsionada pela busca por maior proteção cambial e pela atratividade de empresas globais de tecnologia e consumo, que muitas vezes apresentam crescimentos e lucros mais expressivos do que muitas companhias listadas apenas no Brasil. Consequentemente, os BDRs se consolidaram como a maneira mais prática de realizar a alocação de recursos globais sem a burocracia do investimento direto no exterior.
Como Funciona o BDR
Para aproveitar ao máximo essa ferramenta, é crucial entender a sua estrutura. Um BDR não é a ação em si; ele é um “recibo” ou certificado de depósito.
Para que um BDR seja negociado aqui no Brasil, o processo segue a seguinte lógica:
- Uma instituição depositária — geralmente um banco de investimento brasileiro — compra as ações da empresa estrangeira no mercado de origem (por exemplo, a Bolsa de Nova York).
- Essa instituição custodia as ações no exterior, mantendo-as guardadas em segurança.
- Com as ações lastreadas, a instituição emite os certificados correspondentes (os BDRs) e os disponibiliza para negociação na B3.
- O investidor brasileiro compra o BDR e, indiretamente, passa a ter exposição à performance da ação estrangeira.
Dividendos de BDRs: Como o Dinheiro Chega Até Você
Uma das maiores dúvidas de quem opta por investir em ações internacionais via BDRs diz respeito ao recebimento de lucros. Afinal, como os dividendos, que são pagos em dólar ou outra moeda estrangeira, chegam à conta do investidor no Brasil?
Quando a empresa estrangeira distribui dividendos ou realiza outras formas de proventos (como juros sobre capital próprio), o processo é o seguinte:
- Os valores são depositados na conta da instituição depositária que custodia as ações no exterior.
- Neste momento, os dividendos são sujeitos à tributação na fonte (no país de origem, como os EUA), conforme a legislação local.
- A instituição depositária realiza a conversão da moeda estrangeira para o Real e desconta as taxas de serviço pela intermediação e custódia.
- Finalmente, o valor líquido, já em Reais, é creditado na conta do investidor na corretora brasileira.
Consequentemente, o investidor recebe o provento de forma simplificada, sem se preocupar com a complexidade da remessa cambial individual. Embora o valor recebido seja líquido de impostos e taxas, é importante saber que esse processo garante que você participe dos lucros da companhia global.
Vantagens e Riscos de Usar BDRs Para Alocação de Recursos Globais

Uma das grandes vantagens dos BDRs é a facilidade de acesso. A compra e venda ocorre em reais, através da sua corretora de preferência, de forma idêntica à negociação de qualquer ação brasileira. Além disso, ao investir em ações internacionais através de BDRs, você está automaticamente diversificando seu risco, não apenas entre empresas, mas também entre países e moedas. Essa alocação de recursos globais pode proteger o seu patrimônio de crises localizadas no Brasil ou da depreciação do Real frente a moedas fortes.
Por outro lado, é vital estar atento aos riscos. O BDR carrega o risco da empresa estrangeira, claro, mas também o risco cambial. Se o Real se valorizar muito frente ao Dólar (ou outra moeda de origem), o retorno do seu BDR, em reais, pode ser menor, mesmo que o papel estrangeiro tenha subido em sua moeda original. Outrossim, há custos envolvidos, como a taxa de custódia cobrada pela instituição depositária, que impactam a rentabilidade.
Exemplo Prático: Investindo na Apple Através de BDRs
Para ilustrar o conceito, vamos usar um exemplo simples.
Imagine que você deseja investir em ações internacionais da Apple (AAPL), negociada na bolsa de tecnologia americana, a Nasdaq.
- Sem BDRs: Você precisaria abrir uma conta em uma corretora no exterior, fazer uma remessa cambial (com custos e impostos), converter os Reais em Dólares e só então comprar as ações AAPL.
- Com BDRs: Você entra no home broker da sua corretora no Brasil e busca pelo código do BDR da Apple, que é AAPL34. Você compra esse ativo usando Reais.
Por conseguinte, a instituição depositária no Brasil tem as ações AAPL guardadas nos EUA, e você, ao comprar o AAPL34, passa a ter direito à sua performance. Se a Apple distribuir dividendos, esse valor é recebido pela depositária, convertido para Real (após o desconto de impostos e taxas) e depositado na sua conta. Portanto, você ganha com a valorização do preço do BDR e, eventualmente, com os proventos, tudo isso dentro da sua conta brasileira.
Como Escolher Bons BDRs Para O Seu Portfólio Global
A escolha dos BDRs deve seguir a mesma filosofia de seleção de qualquer outro ativo: pesquisa, análise fundamentalista e adequação ao seu perfil de risco.
Primeiramente, observe a qualidade da empresa estrangeira. A companhia é líder de mercado? Tem um histórico de crescimento e resultados consistentes? Muitas vezes, as empresas disponíveis via BDRs são as blue chips globais, mas isso não elimina a necessidade de análise individual.
Em seguida, analise o spread (diferença entre preço de compra e venda) e a liquidez do BDR na B3. BDRs com baixa liquidez podem ser difíceis de vender rapidamente a um preço justo.
Uma dica valiosa é buscar a lista completa de BDRs negociados na B3. Você pode conferi-las clicando aqui.
Tributação e Aspectos Fiscais: Regras Para Investir em Ações Internacionais
Quando se trata de investir em ações internacionais via BDRs, a tributação pode gerar dúvidas. A Receita Federal do Brasil possui regras específicas que simplificam, em certa medida, a vida do investidor.
Em relação aos ganhos de capital (lucro na venda):
- O imposto sobre a venda de BDRs com lucro é de 15%, sobre o lucro. Não há limite de isenção, como nas ações brasileiras (R$ 20 mil/mês).
Quanto aos dividendos e outros proventos:
- Os proventos (como dividendos) recebidos pela empresa estrangeira são, via de regra, tributados no exterior, pois são retidos pelo país de origem (por exemplo, os EUA retêm 30%).
Neste sentido, a tributação é um ponto que requer atenção, mas não é um impeditivo. Na verdade, a possibilidade de compensar parte do imposto pago no exterior é um aspecto que deve ser analisado cuidadosamente.
O Futuro dos BDRs e o Impacto na Diversificação Brasileira
Os BDRs vieram para ficar e se consolidaram como um pilar essencial para a diversificação do investidor brasileiro. O cenário regulatório tem sido cada vez mais flexível e inclusivo, abrindo o leque de opções para quem busca ativos fora do país.
Por fim, a verdadeira beleza dos BDRs reside na capacidade de permitir que o pequeno e o grande investidor se tornem sócios de companhias que moldam o futuro global. Seja por meio de empresas de tecnologia de ponta, indústrias farmacêuticas inovadoras ou gigantes de consumo consolidadas, o caminho para investir em ações internacionais nunca foi tão claro e direto.
A inclusão desses ativos no seu planejamento financeiro não é apenas uma estratégia de rentabilidade, mas uma proteção e um passo rumo à construção de um portfólio global mais robusto e menos dependente da performance de um único mercado.
Próximo Passo
Antes de investir em BDRs, é essencial analisar as ações originais que dão lastro a esses recibos. Esse passo é fundamental para investir com mais segurança e estratégia. Por isso, recomendamos que você confira nosso artigo: Como Analisar Ações: Aprenda O Básico Para Investir Hoje.
Perguntas Frequentes (FAQ)









