O universo da Bolsa de Valores é, sem dúvida, fascinante, mas para o investidor iniciante, ou até mesmo para quem já tem alguma experiência, pode parecer um labirinto de códigos e terminologias. Um dos primeiros e mais cruciais conceitos que você precisa dominar para navegar com segurança e inteligência neste mercado diz respeito aos diferentes tipos de ações da bolsa de valores.
Neste artigo, vamos desvendar as características e as implicações de cada categoria de ação, garantindo que você tome decisões mais informadas e estratégicas.
1. O Que São Ações, Afinal?
Antes de adentrarmos nos tipos de ações da bolsa de valores, é fundamental solidificarmos a base. Uma ação nada mais é do que a menor fração do capital social de uma empresa. Ao adquirir uma ação, você se torna, consequentemente, um acionista, ou seja, um sócio minoritário daquela companhia. Isso quer dizer que, você passa a ter direitos e deveres proporcionais à sua participação no negócio.
Para compreender ainda mais sobre ações: por que existem, como são criadas, por que os preços oscilam, recomendamos a leitura do nosso artigo clicando aqui.
2. Tipos de Ações da Bolsa de Valores: ON, PN e Units
No mercado brasileiro, as ações são tradicionalmente classificadas em três tipos principais, cada uma identificada por um número específico no final do seu código de negociação (o ticker): Ações Ordinárias (ON), Ações Preferenciais (PN) e Units. Dessa forma, você consegue identificar rapidamente a natureza de cada ativo ao analisar a lista de cotações.
2.1. Ações Ordinárias (ON – Final 3)
As Ações Ordinárias são facilmente identificadas pelo número 3 ao final do código da empresa, como no exemplo PETR3 (Petrobras ON) ou VALE3 (Vale ON).
Direitos e Características Principais
O principal diferencial da Ação Ordinária é o direito a voto nas assembleias da empresa. Contudo, para o pequeno investidor, o impacto real do voto pode ser limitado, já que o peso da decisão é proporcional ao volume de ações que você possui. Ainda assim, esse direito garante que o acionista participe, de forma indireta, da gestão e dos rumos estratégicos da companhia.
Além disso, as ações ON são legalmente protegidas pelo chamado Tag Along.
O Tag Along é um mecanismo de proteção aos minoritários: caso o controle acionário da empresa seja vendido, os detentores de ações ON têm o direito de vender suas ações nas mesmas condições oferecidas aos acionistas majoritários (geralmente com um mínimo de 80% do valor pago por ação do bloco de controle). Portanto, o Tag Along é um fator importante de segurança, especialmente para investidores de longo prazo.
Em resumo, as ações ON são mais indicadas para investidores que buscam uma participação nos rumos da empresa e valorizam a proteção do Tag Along em caso de mudança de controle.
2.2. Ações Preferenciais (PN – Final 4, 5, 6, etc.)
As Ações Preferenciais são as mais comuns no pregão da B3 e a grande maioria delas é identificada pelo número 4 no final do código, como no caso de ITUB4 (Itaú Unibanco PN) ou BBDC4 (Bradesco PN).
Entretanto, existem classes de ações preferenciais que utilizam outros números, como 5 e 6 (exemplo: USIM5 ou ELET6), indicando diferentes prioridades dentro do estatuto da empresa.
Direitos e Características Principais
Como o próprio nome sugere, a principal vantagem das ações PN é a preferência no recebimento de proventos, como dividendos e Juros Sobre Capital Próprio (JCP), em relação às ações ON. Essa preferência é definida pelo estatuto de cada empresa e, em muitos casos, garante ao acionista preferencial um dividendo mínimo ou um valor fixo. Dessa forma, são geralmente mais procuradas por investidores com foco em geração de renda passiva.
No entanto, a grande contrapartida é que, via de regra, as ações preferenciais não oferecem direito a voto nas assembleias da companhia.
Além disso, em caso de liquidação (falência) da empresa, os acionistas PN têm prioridade no reembolso do capital, apesar de esse ser um cenário extremo e menos provável.
Consequentemente, as ações PN costumam apresentar maior liquidez no mercado. Isso acontece porque a prioridade no recebimento de dividendos atrai um grande volume de investidores, facilitando a compra e venda desses papéis.
2.3. Prioridade vs. Rentabilidade: O Mito do Dividend Yield Maior
É fundamental que o investidor compreenda a sutil, mas importantíssima, diferença entre prioridade no recebimento e rentabilidade (ou Dividend Yield – DY) superior. Apesar de as ações preferenciais (PN) terem o direito de receber proventos antes das ações ordinárias (ON) — e, em muitos casos, terem a garantia de um dividendo mínimo —, isso não é uma regra de que elas terão um DY maior.
Muitas vezes, a alta liquidez das ações PN faz com que a demanda seja maior, elevando seu preço de cotação em relação às ações ON. Assim, embora a empresa pague o mesmo valor de dividendo por ação para ambos os tipos, a valorização do preço da PN pode achatar o yield. Lembre-se que o Dividend Yield é calculado pela divisão do valor do dividendo pelo preço atual da ação.
Portanto, se o preço da PN estiver significativamente mais alto que o preço da ON (para um mesmo valor de dividendo pago), o Dividend Yield da PN pode ser, paradoxalmente, inferior. Por essa razão, o investidor focado em renda deve sempre calcular e comparar o yield real dos tipos de ações da bolsa de valores, e não apenas presumir uma rentabilidade maior com base na prioridade.
2.4. Units (Final 11)
As Units, identificadas pelo final 11 (como no caso de KLBN11 ou BPAC11), não são um tipo de ação em si, mas sim um pacote de ativos que combina, em um único código de negociação, uma ou mais ações ordinárias e uma ou mais ações preferenciais.
Direitos e Características Principais
A composição de uma Unit varia de empresa para empresa e é definida no estatuto da companhia. Por exemplo, uma Unit pode ser composta por 1 ação ON e 2 ações PN. Portanto, ao comprar uma Unit, o investidor adquire simultaneamente os direitos e deveres de ambas as classes de ações contidas no pacote, incluindo o direito a voto (da parte ON) e a prioridade no recebimento de proventos (da parte PN).
Em suma, as Units oferecem uma espécie de “pacote completo”, combinando as vantagens de ambos os tipos de ações da bolsa de valores. São uma opção prática para quem busca o equilíbrio entre participação e preferência.
3. Classificação por Porte e Liquidez: Risco e Potencial
Além da classificação por direitos (ON e PN), os tipos de ações da bolsa de valores também são comumente categorizados pelo porte da empresa e pela liquidez de seus papéis no mercado. Essa distinção é crucial, pois ela influencia diretamente o risco, o potencial de crescimento e a facilidade de compra e venda do ativo. Portanto, conhecer essa classificação é um diferencial na montagem de uma carteira diversificada.
A classificação mais usada no mercado financeiro divide as ações em três grupos principais, baseados no valor de mercado (capitalização) da companhia:
3.1. Blue Chips (Large Caps)
O termo “Blue Chip” vem do jogo de pôquer, onde as fichas azuis são as de maior valor. No mercado de ações, ele se refere aos papéis de grandes empresas, já consolidadas em seus setores e com alto valor de mercado (Large Caps).
- Características: Alta Liquidez, Solidez, Estabilidade e Menor Volatilidade.
- Perfil do Investidor: Ideais para quem busca estabilidade, segurança e geração de renda passiva através de dividendos.
- Exemplos: Petrobras (PETR4), Vale (VALE3), Itaú Unibanco (ITUB4) e Ambev (ABEV3).
3.2. Mid Caps (Ações de Média Capitalização)
As Mid Caps (do inglês, Middle Capitalization) são as empresas que se encontram em um estágio de desenvolvimento intermediário. Elas já ultrapassaram a fase inicial de alto risco, mas ainda não atingiram o patamar de consolidação das Blue Chips.
- Características: Liquidez Intermediária, Potencial de Crescimento e Risco Moderado.
- Perfil do Investidor: Atendem investidores de perfil moderado que buscam um equilíbrio entre segurança e potencial de valorização.
- Exemplos (B3): Cielo (CIEL3) e Embraer (EMBR3).
3.3. Small Caps (Ações de Baixa Capitalização)
As Small Caps (do inglês, Small Capitalization) são as ações de empresas com menor valor de mercado. Geralmente, são empresas mais jovens ou que atuam em nichos de mercado em franco desenvolvimento.
- Características: Baixa Liquidez, Alto Potencial de Valorização e Maior Volatilidade.
- Perfil do Investidor: São indicadas para investidores com perfil mais arrojado e com um horizonte de tempo de longo prazo, dispostos a suportar maior volatilidade em troca de um potencial de retorno superior.
- Exemplos (B3): Cogna (COGN3), Irani (RANI3) e Banco ABC (ABCB4).
É crucial, no entanto, entender que a classificação de tipos de ações da bolsa de valores por porte não se traduz diretamente em qualidade.
4. Um Exemplo Prático de Diferenciação: Ações da Petrobras
Para ilustrar de forma didática a diferença entre os tipos de ações da bolsa de valores, vamos usar um exemplo real: a ‘Blue Chip’ Petrobras (Petróleo Brasileiro S.A.).
| Característica | PETR3 (Ação Ordinária – ON) | PETR4 (Ação Preferencial – PN) |
| Direito a Voto | SIM (direito a voto nas assembleias) | NÃO (geralmente sem direito a voto) |
| Precedência em Proventos (Dividendos) | Sem preferência | SIM (prioridade no recebimento) |
| Tag Along (Mudança de Controle) | SIM (garantia de venda com valor mínimo) | Depende do estatuto (na Petrobras, é de 100%) |
| Liquidez | Geralmente menor | Geralmente maior (mais negociada) |
Neste exemplo, um investidor que compra PETR3 está priorizando o direito a voto e a proteção do Tag Along. Em contraste, o investidor que opta por PETR4 está buscando a prioridade no recebimento de dividendos e a maior liquidez do papel, que historicamente é a mais negociada no mercado, sendo um dos tipos de ações da bolsa de valores mais populares.
Embora PETR3 possa ter liquidez menor que PETR4, essa característica é irrelevante para o pequeno investidor que negocia volumes modestos – as ações da Petrobras, incluindo as ordinárias (PETR3), gozam de altíssima liquidez no mercado.
Isso significa que não há problemas para serem compradas ou vendidas rapidamente em grandes volumes, refletindo o tamanho e a relevância da empresa no mercado. Essa observação é válida para outras ‘Blue Chips’, como o banco Itaú (ITUB3 e ITUB4).
5. O Impacto da Governança Corporativa: O Novo Mercado
É impossível falar sobre tipos de ações da bolsa de valores sem mencionar a Governança Corporativa. A B3 possui segmentos de listagem que classificam as empresas de acordo com o nível de transparência e os direitos que elas oferecem aos acionistas.
O principal desses segmentos é o Novo Mercado. As empresas listadas no Novo Mercado, por exigência, devem emitir somente ações ordinárias (ON – Final 3). Isso significa que, todos os acionistas, inclusive os minoritários, possuem os mesmos direitos de voto e são integralmente protegidos pelo Tag Along de 100% (o acionista minoritário deve receber exatamente o mesmo preço por ação pago aos controladores). Desse modo, o Novo Mercado é visto como o mais alto padrão de governança no Brasil.
Conclusão: Investir com Conhecimento
Investir na bolsa de valores requer muito mais do que apenas escolher uma empresa com bom desempenho. Requer, acima de tudo, o entendimento dos direitos e riscos associados a cada ativo. Dominar os tipos de ações da bolsa de valores é um passo gigante rumo à construção de uma carteira de investimentos sólida e alinhada aos seus objetivos.
Em resumo, a escolha entre ON e PN afeta seus direitos e prioridades de lucro, enquanto a escolha entre Blue Chip, Mid Cap e Small Cap define seu apetite por risco e potencial de crescimento.
É crucial, portanto, analisar o estatuto de cada companhia, entender a composição das Units e comparar o Dividend Yield real antes de tomar sua decisão. Busque sempre informações em fontes confiáveis e consulte um profissional de investimentos, se necessário, para garantir que sua jornada no mercado acionário seja bem-sucedida.
Para aprofundar seu conhecimento sobre as empresas listadas na bolsa de valores, incluindo as de Novo Mercado, acesse o site oficial da B3.
Perguntas Frequentes (FAQ)
As ações ordinárias (ON) dão direito a voto; as preferenciais (PN) têm prioridade em proventos; e as Units agrupam diferentes classes num único código.
No Brasil, os tickers terminam com números que indicam o tipo (3 = ON, 4/5/6 = PN, 11 = Unit). Essa distinção ajuda o investidor a equilibrar governança, renda e liquidez.
Não. Ter prioridade no recebimento de dividendos não significa, necessariamente, que as ações PN terão um Dividend Yield maior.
Como o yield é calculado dividindo o dividendo pago pelo preço da ação, papéis PN mais valorizados podem ter rendimento proporcionalmente menor que as ON. O ideal é comparar sempre o DY real antes de investir.
O Novo Mercado é o segmento da B3 com os mais altos padrões de governança corporativa. Nele, as empresas só podem emitir ações ordinárias (ON) e garantem Tag Along de 100% aos minoritários.
Isso significa maior transparência e igualdade de direitos, tornando essas empresas mais seguras para quem investe no longo prazo.
O tipo de ação ideal depende dos seus objetivos e da sua tolerância ao risco. Investidores conservadores tendem a preferir ações PN e Blue Chips; moderados equilibram ON e Mid Caps; e arrojados buscam Small Caps com maior potencial de valorização.
Entender seu perfil é essencial para montar uma carteira coerente e estratégica, combinando segurança, liquidez e crescimento.
Essa classificação divide as empresas em Blue Chips, Mid Caps e Small Caps, de acordo com seu valor de mercado e liquidez.
As Blue Chips são grandes e consolidadas, com alta liquidez e menor volatilidade. As Mid Caps têm porte médio e potencial equilibrado de crescimento. Já as Small Caps são menores, com menor liquidez, maior risco e alto potencial de valorização — atraentes para investidores que buscam retornos superiores no longo prazo.
